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Mini tutorial de como obter boas fotos no microscópio

Não adianta! Para quem trabalha com morfologia, seja ela de plantas, animais, fungos, ou qualquer outra coisa, você acabará chegando no momento que tem que ilustrar suas descrições e descobertas. E obter boas imagens, sejam elas ilustrações, fotos ou esquemas é fundamental para ter um bom trabalho científico nesta área.

Existem milhões de tutoriais excelentes pela internet afora e não vai ser o meu que vai resolver o problema. Porém, resolvi escrever este post como uma continuação de um outro que escrevi décadas atrás (veja aqui) dando dicas para uma melhor redação científica. Como antes, este post agora é dedicado especialmente aos estudantes do LEBR, mas por que não expandir e ajudar quem quiser aprender um pouquinho, né?

O que se segue é um mini tutorial para obter fotos usando microscópio de luz (ou óptico). Os princípios serão os mesmos para o microscópio eletrônico, mas com maior possibilidade de ajustes, devido à maior complexidade do ME. Mas eu explico um pouco mais sobre esse outro tipo de fotografia depois.

1) O principal: luz

Fotografia significa "escrever com a luz". Então o princípio é básico: se a luz não estiver boa, não adianta que sua foto não vai ficar boa. O microscópio de luz funciona somente por causa da luz. E apesar de você conseguir formar uma imagem sem ajustar nada do microscópio, a sua foto vai ficar subótima (pra não dizer que ela vai ficar ruim) se você não ajustar o microscópio. Ou você acha que aquele monte de botões e parafusos que tem no microscópio são puramente "enfeites"?

Então, a primeira coisa que você precisa fazer é preparar o microscópio para a iluminação de Kohler: http://www.ib.usp.br/inter/0410113/downloads/regulagem_mic.pdf

(OBS: nem todo microscópio tem todas essas partes para fazer a iluminação correta. Muitos tem o condensador e o diafragma já fixos. Neste caso, a iluminação é subótima, mas é melhor do que uma iluminação toda torta!)

2) Uma boa preparação é fundamental

Se você vai tirar fotos de lâminas microscópicas é fundamental que você tenha boas preparações. Porque não adianta ter um microscópio alinhadinho, uma câmera poderosa e ter um modelo feio e ruim. Então, se você não tem uma boa preparação - isto é, uma boa lâmina - não adianta tentar fazer milagre. Volte para bancada e prepare novas lâminas. Se você preparou as primeiras lâminas "no atacado" (um monte de uma vez) para ter uma ideia geral do seu material, agora é hora de preparar lâminas com mais cuidado. Faça cortes mais finos, tenha mais cuidado com as colorações, tenha mais paciência com o material. Se você começar com material ruim, o resultado vai ser ruim. Como dizia minha orientadora: "garbage in, garbage out" (lixo pra dentro, lixo pra fora!!)

3) Atenção ao foco

Eu diria que qualquer fotografia tem três parâmetros principais: foco, brilho e contraste. Embora todos eles precisem estar 100% ajustados na hora da foto, o brilho e o contraste você ainda consegue melhorar no tratamento pós fotografia (o famoso photoshop). Porém, se a foto estiver sem foco, já era. Ela vai ser inútil e vai ocupar um bocado de bites no seu computador. Então, antes de apertar o "Capturar", ajuste bem o foco. Na dúvida, tire fotos em diferentes focos e depois escolha a melhor. As vezes, dependendo da espessura do espécime, os diferentes focos permitirão que você tenha uma melhor visão do que é a estrutura que você está enxergando. Para ajustar o foco, não existe computador que dê jeito. Você vai precisar fazer isso manualmente no parafuso micrométrico do microscópio (obs. alguns microscópios são controlados via computador - porém, ainda assim, vai ser você que vai definir o foco).

4) Atenção ao brilho e ao contraste

Apesar de ser ajustável, como mencionei anteriormente, é importante que você trabalhe bem o brilho e o contraste da imagem antes de capturar a foto. Imagens estouradas (muito claras) ou com pouco brilho dificultam a visualização das estruturas e mascaram aquilo que você quer mostrar. Imagens muito claras podem dar a impressão de espaços vazios e muito escuras o contrário. Existe um brilho ótimo para cada aumento do microscópio e para cada estrutura. Para ajustar o brilho, você primeiro vai ajustar a abertura do condensador. Aumentar ou diminuir a quantidade de luz é um passo importante. Por último, você vai ajustar o tempo de exposição da câmara no software de aquisição de imagens! O mesmo condensador vai te ajudar a ajustar o contraste. Deslocando ele pra direita ou para esquerda, você vai achar um ponto ótimo de brilho e contraste. Mais pra direita (abrindo o condensador) você terá mais brilho e menos contraste. Mais para a esquerda (fechando o condensador) será o contrário. Experimente! Finalmente, após ajustar a imagem no microscópio, você ainda pode ajustar o brilho e o contraste no software de captura de imagem no seu computador. Por favor, esqueçam o modo de captura automática do seu software. Ele vai estragar todos os ajustes finos que você fez no microscópio. Diferentemente das câmaras fotográficas, as câmaras dos microscópios só tem o controle de tempo, uma vez que a abertura é você quem fará no microscópio. Portanto, um último ajuste (principalmente para o brilho) é definir qual é a melhor exposição para aquele espécime específico.

 

Lembre-se: não existe "TAMANHO ÚNICO" nos ajustes do microscópio e da câmara!

Cada corte/ lâmina nova você precisará ajustar de novo o foco, brilho e contraste!

 

5) Se familiarize com o software de captura de imagens

Dependendo da grana que seu laboratório conseguiu, o microscópio será melhor, mais chique, motorizado ou será mais simples e com menos comandos, mas a essência do funcionamento dele será a mesma. A câmera terá mais megapixels de resolução e poderá obter imagens com fluorescência, etc. Porém, os princípios da fotografia permanecerão os mesmos. E para que você possa obter boas fotos, é preciso que você se familiarize com o software de captura de imagens (SCI). O SCI será sua interface para conseguir boas imagens. De nada vai adiantar ter preparado a melhor lâmina de todas, ter alinhado o microscópio certinho e não saber como mexer no SCI. Procure o manual de instruções, tutoriais na internet, videos no Youtube. Saia do comando de captura automático do SCI. Se você ficar assim, você não vai conseguir aquela foto que dá orgulho de estampar a capa do seu TCC, dissertação ou Tese. Os SCI geralmente vão te dar informações sobre a qualidade do brilho, do contraste e até mesmo do foco. Eles vão te ajudar a ter uma imagem mais nítida, com melhor resolução e mais fácil de ajustar no futuro, quando você estiver trabalhando no photoshop. Dentre as várias informações que eles podem te dar, uma das minhas preferidas é o HISTOGRAMA. Tente colocar todos os ajustes para que você tenha uma curva "normal" no seu histograma bem centralizada.

6) Não se esqueça da escala!

Fotos em microscópio podem ser tiradas em diversos aumentos. Você pode depois no computador retirar informações desnecessárias para a estrutura que está mostrando, cortar pedaços da foto que não são relevantes, etc. Porém, é preciso sempre ter uma escala que permita que você (e as outras pessoas que verão suas fotos) saibam quanto aproximadamente aquela estrutura mede. Uma foto sem escala deixa a sua bela imagem quase que sem nenhuma utilidade, afinal, um microscópio pode variar (em média) de 40x a 1000x (25x de diferença). É importante também saber onde colocar a escala. Se a escala estiver em cima da estrutura, já era! Então, posicione a escala em algum lugar da foto "descartável", pois quando você for editar a foto na prancha para a publicação, você poderá colocar a escala no lugar adequado. Resumindo: não se esqueça de colocar a escala certa na foto e no lugar certo.

7) Tire muitas fotos

A época da fotografia em filme, que custava uma grana para comprar, revelar e ainda tomava um tempão para ter a foto, acabou. Embora eu seja saudosista principalmente para fotos pessoais, a utilização de fotos digitais nos microscópios foi uma das grandes revoluções nas últimas décadas – principalmente pra gente que trabalha com morfologia. Então, use e abuse desse recurso. Tire fotos, muitas fotos! Ou você acha que aquela foto que ilustra aquele artigo fantástico que você leu na semana passada foi a única que o pesquisador tirou? Tire muitas fotos, mude o foco, mude o brilho e mude o contraste. Mude um de cada vez e vá experimentando até chegar num denominador comum que permita que a foto seja perfeita (ou o mais próximo disso!). E aqui vai uma mensagem de quem passou os últimos dez anos fazendo isso: a foto que vemos no computador logo depois que tiramos no microscópio é sempre melhor, mais clara e mais nítida que a que vemos no computador quando formos montar a prancha! Por isso é importante ter sempre algumas fotos a mais na manga...

8) Salve no formato adequado

Na hora de salvar ainda é preciso ter atenção! Para publicações, você precisará ter as fotos no formato TIFF. Dependendo do SCI que você tem acesso, salvar em TIFF pode significar que você guarda os metadados da foto. Isto é: qual aumento a fotografia foi tirada, onde fica a escala, etc. O formato TIFF também permite que a foto não perca a resolução devido à compressão dos dados. É por isso que este formato é mais pesado que os outros. Salvar em JPEG vai permitir que você divulgue suas belas imagens no Instagram e no Whatsapp, mas vai te prejudicar na hora de montar as pranchas e na publicação do seu artigo. Então, não titubeie: salve em TIFF! [Você pode usar o formato raw também. Ele é ainda melhor. Porém, é mais pesado ainda e nem todo software de visualização/tratamento de imagens consegue abrir este tipo de arquivo!]

 

Vá para o microscópio agora e pratique o que você leu aqui. Um bom microscopista é como um bom aviador: depende de muitas horas de prática. Agora que você já sabe como obter boas fotos, tá na hora de trabalhar elas em um "photoshop" para montar bem suas figuras que irão ilustrar o seu trabalho. Irei fazer um post sobre isso nas próximas semanas.

Qualquer dúvida, sugestão, dicas, por favor compartilhe com a gente!

Emilio


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