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Estaríamos negligenciando o mar e a biologia reprodutiva dos animais?

Como ocorre em todo ano par, 2018 foi ano do Congresso Brasileiro de Zoologia, em sua 32ª edição. A cidade sede foi a belíssima Foz do Iguaçu, no estado do Paraná, que faz parte de uma tríplice fronteira com o Paraguai e a Argentina – que, claramente, não podíamos deixar de conhecer! E essa união esteve representada nos organizadores bilíngues – ou até mesmo trilíngue, no útil “portunhol” [risos] - do evento, a jovem UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana). As famosas cataratas – com centenas de quatis - estão dentro do Parque Nacional do Iguaçu, um dos nossos poucos remanescentes protegidos de Mata Atlântica, que também contém o impactante Parque das Aves. E foi nesse ambiente que embarcamos (eu e Danyele dos Santos) no nosso primeiro congresso fora de Salvador.

Foram também as nossas primeiras apresentações orais, em que eu falei sobre a dinâmica reprodutiva e a descrição dos elementos reprodutivos de Dysidea janiae, e Dany sobre a dinâmica reprodutiva de Tedania ignis em um gradiente latitudinal ao longo da costa brasileira. Foi uma experiência bastante enriquecedora, pela possibilidade de troca de conhecimentos e ajustes necessários à finalização do projeto, além de podermos divulgar um pouco mais o que produzimos a respeito dos aspectos reprodutivos dessas duas esponjas tropicais.

Bruno Cajado e Danyele dos Santos em suas respectivas apresentações sobre a reprodução de esponjas durante o XXXII CBZ

Porém, nem tudo foi “fecundado”. Na verdade, quase nada. Os trabalhos orais sobre reprodução se resumiram a três (dos mais de 200 aceitos no evento): os nossos dois do laboratório, e um sobre Coleoptera (besouros). Outra coisa que nos chamou a atenção foi a grande quantidade de trabalhos sobre insetos dentre outros organismos terrestres, havendo muito pouco sobre a reprodução desses organismos estudados, e a biologia marinha no geral. Porém, o mar persistiu no evento, principalmente na forma de pôsteres produzidos por alunos da graduação – como nós. Nesse aspecto podemos elencar outro benefício de congressos: a possibilidade de networks, mesmo que efêmeros, com pessoas que trabalham em aspectos similares ao seu, que sofrem as mesmas, ou distintas, belezas (e dificuldades). Isso alimenta nossa mente curiosa em compreender diferentes aspectos (e.g. taxonomia de esponja, costões rochosos, reprodução de peixes de água doce e contagem de ovos de caranguejos) e as correlações com diferentes locais, úteis na análise de padrões (ou a ausência deles) nos organismos marinhos.

Como estagiário há três anos no LEBR, me senti muito honrado em poder levar o nome do nosso lab a terras tão distantes do mar. Terras essas que vêm sendo dominadas pela entomologia, tão necessária nesse país continental. Pero, temos também uma imensa área de litoral, nossa Amazônia Azul, ainda pouco compreendida. Por isso, dentro dessa miríade de animais de seis pernas articuladas, pretendemos, junto com as pessoas que encontramos que também se interessam por embriologia e biologia reprodutiva, levarmos esses tópicos aos eventos pertinentes. Quando me refiro à reprodução genericamente, abarco tudo e todos, pois se há um tópico que une todos os organismos, esse tópico é a transmissão da informação genética. Ou seja, a EvoDevo pode ser ampliada aos outros organismos também, pois, não é nada mal vermos o desenvolvimento intrapuparial de moscas ou a reprodução assexuada de ofiuroides em um evento sobre vidas e formas tão diversas.


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