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A trajetória de um esponjólogo determinado


Sou Gustavo L. Kasper, formado em Ciências Biológicas na Unisinos – RS. Desde o início da graduação fiz estágio de iniciação científica no laboratório de poríferos marinhos do Museu de Ciências Naturais do Rio Grande do Sul em Porto Alegre. As pesquisas que eram realizadas no laboratório tinham como foco a taxonomia de esponjas, principalmente da classe Demospongiae. Logo que iniciei o estágio no laboratório, realizei o curso básico de mergulho “SCUBA” para poder visitar e trabalhar com as esponjas em seu habitat natural. Tive a oportunidade de trabalhar durante toda a graduação com taxonomia de poríferos de vários estados brasileiros como de Santa Catarina, do Paraná, e do Maranhão. Trabalhei também com a identificação de esponjas da Argentina, que fazia parte de um projeto maior liderado pelo grupo de espongólogos da UFRJ. Além de contribuir com o trabalho dos demais colegas de laboratório, fiz alguns estágios para aprimorar o conhecimento do Filo Porifera com pesquisadores do Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA).

Após obter o título de graduado em biologia me mudei para Florianópolis (SC). De nossa turma do laboratório do Rio Grande do Sul, apenas o Dr. João Carraro continuou se dedicando ao estudo das esponjas no estado de SC, realizando suas pesquisas com as esponjas de lá. A região Sul do Brasil, a partir do estado de Santa Catarina, é onde encontramos condições ideais para o desenvolvimento de esponjas em costões rochosos e de infralitoral, por apresentar praias com baías, costões e ilhas, com uma fauna bem diversa de esponjas que se distribuem geograficamente desde o Caribe até o Sul do Brasil, sendo, inclusive, algumas espécies endêmicas. Durante esse período que residi em Florianópolis realizei o curso de mergulho avançado, pois como realizamos mergulhos em reservas marinhas, se faz necessário ter essa certificação, além de aprimorar as técnicas dessa atividade tão importante para nossa profissão.

No congresso de Biologia Marinha que aconteceu em Florianópolis no ano de 2013, tive a oportunidade de reencontrar com o Dr. Emilio Lanna (que havia conhecido no congresso de Zoologia do ano de 2008 durante o I Simpósio de Porifera realizado no Paraná) que atualmente é professor e pesquisador na Universidade Federal da Bahia - UFBA. Durante o congresso de Biologia Marinha, Emilio e João firmaram parceria para um projeto que visa analisar o período reprodutivo da espécie Tedania ignis ao longo do litoral brasileiro, no qual ficamos responsáveis pelas coletas de Florianópolis. Desde então minha vontade de estudar a reprodução de esponjas só aumentou, e com nossa aproximação resolvi fazer uma visita a Salvador para conhecer o LEBR, com o intuito de aprender as técnicas de histologia. Durante o período que estive em Salvador fiquei sabendo que a inscrição para o mestrado em Diversidade Animal na UFBA estava aberta e após mais algumas conversas com Emilio, ele me incentivou e aceitou me orientar durante o mestrado. Conversamos sobre o possível projeto e Emilio apontou que havia um estudo em aberto para investigar a reprodução de um grupo de esponjas que eu já havia trabalhado com a taxonomia durante a graduação, no qual me interessei muito.

Realizei a seleção para o mestrado alguns meses depois e fui aprovado! Atualmente desenvolvo meu projeto que tem o objetivo de estudar as estratégias de reprodução e a gametogênese de esponjas do gênero Ircinia, tendo como foco as espécies Ircinia felix e Ircinia strobilina. São esponjas muito abundantes nas praias do litoral de Salvador, sendo que o estudo é realizado na praia do Porto da Barra. Essa pesquisa vai apresentar resultados inéditos para a ciência, uma vez que estudos sobre aspectos da reprodução da família Irciniidae são escassos na literatura. Esponjas dessa família produzem diversas substâncias químicas que as protegem da predação por peixes, porém apresentam associação com outros invertebrados, como poliquetos, hidroides e ofiuroides. Essa família está dentro da ordem Dyctioceratida, sendo a ordem das esponjas de banho, apresentam arquitetura esqueletal reticulada, com fibras de espongina formando malhas arredondadas ou irregulares. As espécies I. felix e I. strobilina apresentam consistência elástica, e são muito resistentes, sendo muito difícil de cortar seu tecido. São espécies muito importantes para o ambiente marinho, por competirem muito bem com outros organismos marinhos e servirem de micro-habitat para outros filos, além de ter uma grande importância para a indústria farmacêutica por apresentarem metabólitos secundários.

O projeto está em fase inicial. Foram marcados 10 indivíduos de cada espécie na praia do Porto da Barra, Salvador, Bahia. As coletas dos fragmentos para a histologia iniciaram em junho assim como a mensuração dos espécimes. Com a histologia esperamos responder algumas perguntas do projeto, como compreender qual a estratégia reprodutiva, quantificar os elementos reprodutivos, compreender a fase de vitelogênese e analisar se o tamanho das esponjas tem alguma relação com sua reprodução.


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